segunda-feira, 22 de março de 2010

Histórias de Angola

Sei que tenho andado desaparecido, mas tenho tido uma vida bem preenchida por aqui, com muito trabalho, mas também com muito convívio entre amigos que entretanto vamos reunindo e posso dizer que finalmente vou tendo uma cor dourada que este corpinho já não via faz muitos anos.
Como já tenho contado anteriormente, passo uma boa parte do meu tempo no CNL e um dia destes vinha eu atarefado rua acima quando dou com o BBRL e conversa puxa conversa, já tenho barco para a regata Luanda - Lobito - Luanda, e assim ficou combinado. Entretanto o stress do costume, e por falar em stress do costume, como já tinha contado, o Jeep estava empanado, um Nissan Terrano II, e toca de ir falar com a Nissan e não é que me respondem do outro lado "...que carro é, um Terrano, nós não podemos arranjar esse carro, nós não o vendemos...". Estão a imaginar a minha cara do outro lado do telefone e a pensar, eu devo ter ouvido mal, afinal eu telefonei para o representante da Nissan em Angola e feito parvo pergunto, "...desculpe, mas vocês não são os representantes da Nissan??????..." e repondem-me com a maior das tranquilidades "....somos sim, mas como não vendemos esse carro em Angola, não o arranjamos, só arranjamos os carros que são vendidos por nós.....", o que é que uma pessoa responde a isto???? respira fundo 1589 vezes, desliga com a maior das delicadezas, e o resto ponham a vossa cabeça a imaginar. Claro que o carro não foi arranjado na Nissan, queriam impingir uma bomba de gasóleo, quando na oficina da esquina o Jeep ficou a andar com a troca de um relé!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! e mais, e quando é que o jeep pode entrar para reparar???? respondem do outro lado "..., no mínimo só daqui a 3 semanas e não sabemos quando é que irá estar pronto...."

Entretanto, nas preparações para a viagem, aparelhar o barco onde não participei porque tinha o AV e o TV em Luanda e como de costume não tinha tempo para respirar, mas lá consegui ajudar um pouco com as compras de supermercado, muitos líquidos, comida enlatada, fruta, carninha da boa e muitas muitas outras coisas, ou seja a coisa ficou por cerca de 370 aereos a dividir por quatro, sim, que aqui o supermercado com um carrinho pequeno cheio faz a festa de uma maneira, que só apetece dizer uns palavrões, mas ok, não é todos os dias.
Finalmente o dia da partida, malinha pronta e muito creme protector na bagagem, velas a bordo e toca a sair que a largada é na contracosta e ainda temos que sair da baía e percorrer a ilha toda, quando estamos quase a chegar à zona da largada, o motor começa a falhar e morre, pelo menos não podem dizer que se fez batota metendo motor, porque não o tinhamos mesmo, e mesmo quase sem vento lá conseguimos chegar à largada a horas onde tivemos de esperar mais de uma hora às voltinhas por uma das embarcações que não tinha largado da marina porque veio-se a descobrir que tinha uma rede enrolada na hélice, mas lá acabou finalmente por chegar e .... largada, onde nos portámos muitísimo bem, onde acabamos por partir logo em segundo na nossa embarcação de cruzeiro familiar rápido, posição essa que a conseguimos manter ao longo de todo o Mussulo tendo começado a perder para o MF, mas que era perfeitamente compreensível dada a grande diferença entre as embarcações, e entre cinco embarcações estávamos a conseguir manter um mui honroso terceiro lugar em tempo real com uma orça de meter inveja a muito barquinho. Chegada a noite, toca a ligar o radar, que estávamos em cima da barra do Kuanza e abundam por aqui muitos barquinhos de pesca artesanais que costumam andar completamente às escuras. Aliás, aconteceu uma episódio algo engraçado com o D. que apanhou um barco desses que estava fundeado e cujo cabo da âncora foi apanhado pelo patilhão, de repente só vê um desses barcos a toda a velocidade em direcção ao barco e grita para dentro do barco, tragam a kamarov, tragam a kamarov que estamos a ser assaltados, ...., pois eu imagino os gajos dentro do barquito que foi apanhado, o cagaço que não devem ter apanhado!!!!!!!!!!!
Entretanto no nosso cantinho, tudo calmo, ou melhor dizendo, calmo demais, porque ficamos sem vento e decidimos dar bordo para o largo para tentar apanhar uma brisa. Quanto aos quartos, ficou o PC com o BBRL das 21h00 às 02h00 e eu e o NF com o quarto das 02h00 às 08h00.
A noite estava uma maravilha com um céu estrelado de encher o olho a qualquer um, porque embora estivessemos com quarto minguante a lua nasce muito tarde nesta latitude. Pouco a pouco foi-se levantando um pouco de vento e quando estava eu ao leme aí por volta das 04h00, levantou-se um pouco mais de tempo e com todos os outros a dormir fui tentando orçar ao máximo com o pouco vento que vinha, mas que deu para deixar terra para bem longe, quando os outros acordaram de manhã estávamos a bem mais de 35 milhas da costa, largo o leme por volta das 08h00 e de repente, nem uma brisa, completamente sem vento e à deriva, e todos contentes a dar 360º ao sabor da corrente que ainda por cima nos arrastava para Luanda outra vez, passado um bocado e fartos daquela pasmaceira, toca a meter o pau de spi na genoa para tentar apanhar o máximo de vento possivel para sair daquele buraco enquanto o NF tentava arranjar o motor, entretanto fui dormir e quando acordei já navegávamos e até já tínhamos motor para recarregar as baterias, o NF teve de andar a soprar nos tubos de admissão que estavam todos entupidos!!!!!!!!!!!
O certo é que deixámos de ver os nossos concorrentes, durante a noite tinhamos nos afastado todos uns dos outros, o T que ia à frente com uma grande vantagem pensamos que estaria a fazer bordos junto a terra, quanto aos outros, tínhamos visto alguns a vir para fora como nós, mas não estávamos mesmo a ver ninguém e lá seguimos, umas vezes com vento outras mesmo sem vento e tivemos mesmo de meter motor junto a terra para nos afastarmos porque andávamos novamente à deriva a fazer os nossos famosos 360. Finalmente no Domingo vemos durante uma tarde bastante ao largo e pelo tipo de velas com a genoa a 7/8 cremos que seria o D, entretanto almoço, com um ventinho maravilhoso, uma bolina cerrada linda e uns bifinhos da alcatra para o almoço com esparguete debaixo do toldo improvisado, que o sol cá por estas latitudes torra e não é pouco. Passado um pouco a vela que tínhamos visto aparece bastante à nossa proa e pensamos cá para nós que aquele barquinho não ia de maneira nenhuma só à vela, porque era impossível com a velocidade que estávamos a fazer qualquer um dos nossos opositores se afastar tão rapidamente de nós, ao cair da noite temos a luz de mastro a cerca de 20 milhas à nossa proa.
Segunda de manhã e a chegar ao lobito sem quase vento nenhum a fazer 1 a 2 nós e muito muito peixe em redor do barco, e finalmete chegados vemos que somos a quarta embarcação a chegar e fundeado toca a ir beber qualquer coisa ao Clube do Lobito e tomar um banhinho de piscina de água salgada e relaxar antes de viajar para Luanda de carro, que o trabalho não perdoa.
No fim-de-semana seguinte lá partimos eu o PC e o NF para fazer a volta, estava tanto vento que ao sair da baía a motor lá ficamos novamente sem motor e totalmente parados ao sabor da corrente, desta vez foram-nos rebocar passado um bocado para chegarmos ao largo e apanhar algum vento, e feita a largada lá fomos nós todos contentes, com borrasca à noite e bonança durante o dia, que só navegávamos a 2 nós porque estamos mesmo em cima da corrente fria de Benguela que nos levava para Luanda, desta vez e chegados a segunda, pusemos o motor porque daquela maneira nunca mais chegávamos a Luanda para trabalhar, embora a borrasca não tenha sido nada de especial, mesmo assim achamos um peixe morto em cima do convés durante a manhã.
Ao chegar a Luanda, uma lixeira autêntica à tona de água e muito muito gasóleo, podem crer que não me apanham a banhar novamente nas praias da ilha.
Entretanto este fim-de-semana passado combinou-se uma jantarada em casa do cozinheiro M para abrir a garrafa de Medronho que tinha trazido de Portugal e que ainda estava por abrir à espera que o grupinho estivesse todo reunido, como de costume o convívio foi muito bom e acabei por lá dormir assim como o Chefe L, tendo ficado os dois para o Cozido à Portuguesa do almoço de Domingo, acabamos por ficar para jantar com um bacalhau assado na Grelha e muito azeitinho e para rematar, com uma estrondosa vitória do Benfica sobre o Porto,

Entretanto, hoje lá fui às 6h00 buscar o AV e o TV para mais uma semana non stopo daquelas, é como se diz, conhaque é conhaque, trabalho é trabalho.